Saturday, July 28, 2007

O preço de ser diferente


Em conversa no msn com meu querido Latinha, ele me sugeriu um livro, "O preço de ser diferente" o qual terminei de ler ontem, com lágrimas nos olhos. O livro trata da questão da homossexualidade sob a visão espírita, narrando a história de vida de Romero, um personagem que sofre muito por ser gay. Devo dizer que me envolvi muito com a história e que adorei o livro. Dica de Tin Man que Dawson assina embaixo. ;-)

Bom, durante a leitura, em vários momentos lembrei do momento em que saí do armário para as pessoas aqui de casa. No dia 23 de dezembro de 2003 (jamais esquecerei esse dia) eu estava sozinho em casa com minha mãe, meu pai e meu irmão haviam saído e minha irmã estava no trabalho. Eu estava falando ao telefone com uma amiga da faculdade. Essa amiga foi a primeira pessoa para quem eu havia falado que era gay. Inclusive ela me surpreendeu logo após eu ter me assumido, dizendo: "Olha, agora que você me falou isso tenho uma coisa pra te contar, eu sou lésbica." Foi um susto, por que eu nem desconfiava, já que ela falava de um namorado de 3 anos, que na verdade era namoradA.

Enfim, estava eu conversando com essa minha amiga, sussurrando e tentando me esconder da minha mãe, pois falávamos sobre nossas aventuras e descobertas. Minha mãe, que já vinha desconfiadíssima com minhas saídas suspeitas e falta de namoradas, vinha há algum tempo angustiada. Quando desliguei o telefone e fui procurar por ela, eu a encontrei chorando. Perguntei por que ela chorava e ela começou:

-Eu não sei por que você não se abre comigo... Meu filho, está acontecendo alguma coisa? Por que você não conversa comigo? Confie em mim, eu sou sua mãe...

Aquelas palavras foram ditas com o olhar mais carinhoso do mundo, aquele olhar compreensivo de mãe, que passa, ao mesmo tempo, um ar de fragilidade e de força, de quem parece suportar todas as agruras na difícil tarefa de criar um filho. Senti-me acolhido por ela e já não aguentava mais ter que mentir. Eu ficava com o coração apertadinho todas as vezes em que precisava mentir para sair de casa e ter que viver me escondendo... era horrível.

Ela continuo perguntando o que estava acontecendo, qual era o problema e porque eu não confiava nela. Daí eu falei que confiava sim nela, que continuou:

-Então me fala o que tá acontecendo. Você anda tão estranho... meu filho, é alguma coisa sexual?

Quando ela me perguntou isso pensei comigo mesmo (É agora ou nunca...).

Reuni todas as minhas forças e falei bem baixinho:

-É...

Ela, então, continuou:

-O que é então? Você é homossexual?

Meu rosto ardeu de vergonha, mas era necessário coragem pra seguir em frente e me livrar das mentiras.

-Sou.
-Por quê?
-Não sei mãe... Não tem explicação...
-Mas como assim? Você gosta de outros homens? Beija na boca e tudo, como casal de homem e mulher?

Naquele momento percebi que precisava explicar com calma para ela, que não tinha menor contato com esse universo e que tinha uma visão totalmente deturpada dos homossexuais. Tivemos uma longa conversa e ela me parecia compreender tudo, sem maiores problemas.

O baque, porém, foi mais forte do que eu pensei. Não deve ser fácil para uma mãe, perceber que o seu filho querido não vai seguir o roteirinho que ela tinha na cabeça: casar e lhe dar netos. Ela ficou mal e chorou muito.

Eu havia pedido a ela para que não contasse para o meu pai nem para os meus irmãos, pois eu morrei de medo da reação deles, mas o estado dela foi de ficar de cama de tanta tristeza, portanto, ela acabou tendo que contar porque estava tão triste e chorando tanto.

Lembro-me que entrei no quarto para vê-la vi meu pai e meu irmão mais velho sentados na cabeceira da cama e, ao me verem, olharam para mim ao mesmo tempo. Senti o clima pesar e meu pai disse:

-Meu filho, nós já sabemos, sua mãe nos contou.

Minha vontade naquele momento era me desmaterializar e sumir para bem longe. Encontei na parede e não consegui falar nada, olhando para baixo. Meu pai, então continuou:

-Olhe, sua mãe nos disse que você não queria que ela nos contasse, que você tinha medo que nós o tratássemos mal, que o desrespeitássemos... Que é isso rapaz?! Jamais faria isso! Você é meu filho e eu nunca faria nenhum mal a você.

Meu irmão também falou, o que me deixou ainda mais surpreso:

-Cara, você é meu irmão e eu gosto de você, não importa mais nada, sua vida lá fora não me diz respeito, vou respeitá-lo mais ainda a partir de hoje, não se preocupe.

Eu não acreditava naquilo, estava ouvindo do meu pai e do meu irmão mais velho, as duas figuras que eu mais temia que descobrissem que sou gay, palavras de apoio. A reação deles me surpreendeu muito.

Mais tarde minha mãe contou para minha irmã, que respondeu para ela:

-Eu já sabia mãe. Não havia contado nada para ninguém, mas um dia ouvi, sem querer, uma conversa dele com uma amiga. Mas eu não tenho problema com isso.

Hoje em dia eu e ela somos muito mais próximos que antes dela saber e nos dois até comentamos juntos sobre os gatinhos. rs

E foi assim que minha família ficou sabendo que sou gay. Contando assim de forma resumida parece que foi tudo muito fácil, mas claro que sempre é uma situação difícil. Ninguém espera ter um filho ou irmão gay, ainda mais na sociedade preconceituosa em que vivemos. Mas minha família foi maravilhosa comigo e me sinto um cara de muita sorte por tê-los ao meu lado.

Gostaria de terminar esse post com palavras de um cara que escreve na contra-capa do livro que terminei de ler. Acho que é um cara que tem um programa de gosto meio duvidoso na ERREI DE TV! O programa dele pode ser ruim, mas as palavras que ele escreveu são muito bacanas, principalmente para quem busca se aceitar do jeitinho que veio ao mundo:

"Quando a sociedade estabeleceu um modelo de normalidade, criou uma guerra antropológica com a natureza humana. A diversidade natural é real e em torno dela age a funcionalidade da ecologia, que trabalha a favor dos progressos de todos. Cada um de nós é único, com um temperamento original relativo às necessidades essenciais do progresso pessoal e coletivo. Quem resolve seguir o modelo se ilude bloqueando a expressão de sua alma, criando insegurança, doença, desilusão e sofrimento. Os iludidos dão mais importância às aparências do que à verdade, que prioriza os valores eternos do espírito. Servos do mundo, sofrem o mundo. Em razão disso, quem assume a sua verdade e age de acordo com os valores da Vida, mesmo enfrentando o preconceito e pagando O PREÇO DE SER DIFERENTE, passa a credibilidade, obtém respeito e se realiza. Porém os escravos do preconceitos estão se candidatando no futuro a experimentar as mesmas experiências que criticaram, a fim de aprender e a conviver com as diferenças. FRATERNIDADE é o resultado da capacidade de apreciar as diferenças.
(Luiz Gasparetto)

Eu pago o preço, e vocês?

19 comments:

Marcelo B. said...

ola como vai? Bom, acho que na vida npos pagamos sempre diversos preços, sendo ht ou gay, a gent tem algumas desvantagens por não poder demonstrar sentimentos em publico e compartilhar essess entimentos, mas que vai fazer ne, necessitamos viver em sociedade...agora, eu não posso contar o final do Las Maris em Paris te amo porque fica meio sem graça qdo vc for ver né, mas é bem bonitinho...abção ate mais

F said...

Ai Rapha que bonito que fico teu texto, quase chorei lendo. Conta mais coisas assim. Abração

Uillow said...

Raphito, pq será que eu tive um dèja-vu lendo essa história? Parece que aconteceu mais ou menos assim também com alguém que eu conheço, né? :P

Xêro!

FOXX said...

ow amigo...
qria ter essa coragem
mas naum tenho mesmo
teria dito q minha mae tava louca
e naum tava acontecendo nada demais

BlueBob said...

Emocionante o relato!!!

Sorte sua poder viver sua verdadeira personalidade e ser aceito pela sua família. Ainda estou longe disso.


Bjs

Latinha said...

Oie! Caraca, que lindo teu texto... putz, fico feliz que tenha gostado do livro, ele me chegou a mão meio que sem querer e eu nunca desconfiei do que se tratava. Li e achei muito positiva a mensagem, independente da visão religiosa.

Show de bola sua família é o que eu sempre falo, as vezes as pessoas nos surpreendem!!!

Eu ainda não havia lido a "orelha" do livro e a mensagem é realmente muito linda... vou coloca-la no meu bloguinho também!!!.

Abração!!!

Nina said...

Tudo bem??

Não conheço o livro mas entendo bastante sobre o que você passou. Achei linda a maneira como tudo aconteceu, e te admiro pela coragem, não é nada fácil por entender que as pessoas nunca levam isso de maneira natural, que é a maneira que eu acho que tudo deve ser encarado. Não precisa ser um drama, né? Mas sempre é.

Beijos, força e tudo de bom pra você!

=]~

Cara Imperfeito said...

Rapaz,
Fiquei tonto lendo esse post. Atordoado é a palavra certa! Tenho medo da reação dos meus pais e ando achando que quanto mais tarde pra eles ficarem sabendo, pior!
Que bom receber apoio das pessoas que a gente tanto ama e, às vezes, se esconde para protegê-los tb.
Bacana, vou tentar comprar este livro.

Abração!

Aphrodite said...

Ai, amigo!

Apesar d já conhecer a estória, achei super emocionante seu post! Lindo, lindo!

Vc foi mesmo mto corajoso e eu me orgulho demais de vc por isso! E me orgulho mais ainda por vc não precisar esconder mais sua homossexualidade de ninguém...pois afinal, Dawson é mto, mto, mto mais q uma orientação sexual...tem q ser mto respeitado mesmo!

Bjão

I love ya, forever!

Poison said...

Arrasou!!!!

Hehehehehe!!!!

Valeu pela dica literária conjunta também!!! Hehehehe!!! Tá sumido vc, hein?? Espero que estejas na boa!!! Qdo puder mande notícias!!!

Abraços!!!

Latinha said...

Boa semana meu amigo!!!

Unknown said...

Amigoooooooooooo! blz? Bom, primeiro de tudo, parabéns pela coragem! E super parabéns pela familia qeu vc tem! Valorize, poucos tem a sorte que vc tem! Eu tenho essa sorte! Beijos!

Marcelo B. said...

ola, como vai/ Só passei para deixar um oi.....

Râzi said...

Meu lindinhooooo!!!

Eu já li esse livro! Na realidade, eu comprei esse livro pra dar de presente pra minha mãe no dia da mães! E isso foi depois da minha separação! Ela leu e acho que assimilou alguma coisa, porque mudou um pouco seu jeito!

Eu cheguei a ficar com os olhos marejados quando li sobre a sua mãe te perguntando! E sorri igual um bobo quando vc contou o que seu irmão e pai falaram! Meu lindo, não sabia que vc tinha uma história tão bonita! E não estou dizendo fácil, mas bonita!!

Beijão!

Te pelo pelo MSN!!!
:D

Poison said...

Hummm....

Atualizações?!?!

Sumiu, é???

Hehehehe!!!!

Valeu pelo comment...

Abração!!!

Anonymous said...

Nossa, nem eu sabia desses details, dear!
Deve ter sido terrível, mas q bom q sua família te apoiou, afinal não é uma questão de escolha, né?
Te amo muito, saudades!

Tiago said...

Sua história é de+!
A gente se depara com tantas situações na vida e mtas vezes não sabemos como e em que situações agir..
Eu me recordo neste momento do dia que falei com meus pais e do medo e da insegurança que brotavam de mim..
Mas é tão bom..
Mas eu ainda busco minha essência em meio a toda essa descoberta interior!
Ahh aqui é o Tiago do MSN aquele dia lembrado?
Abs!

Anonymous said...

Affe, pensei q tinha post novo =/

Anonymous said...

Adorei a História...Gostaria que o mesmo tivesse acontecido comigo.Infelizmente nao era a hora certa e tudo foi por agua abaixo...Enfim...Voltei a ser a mesma pessoa que fui...O mesmo John Risonho e aparentemente feliz com a Vida que leva...
Talvez um dia essas questoes sem sem respostas ressucitem e alguma coisa boa aconteça em minha vida.